Dino Pink
Espero que essa sorveteria tenha o mesmo fim dos dinossauros.
R$ 79,90/KG - 2024-12
A bandeja da foto da capa, com 5 bolas de sorvete, saiu por cerca de R$ 33,00. Considero isso caro.
A marca
Em um panfleto, contam que a marca foi criada em 2013, inspirada pela descoberta de fósseis em Dona Francisca - RS, que possui terras de cor rosada. Em 2019 os sócios fizeram curso de gelateria na Itália. Em 2021, a marca operou em Curitiba, mas fechou. Em 2022 abriram uma loja "conceito" em Porto Seguro - BA. Em 2024, abriram a loja em Presidente Prudente - SP. Não mencionam a loja de Agudo - RS, que também não existe mais. Há, também, uma "Dino Pink na Varanda", que não sei sobre o que se trata.
Visivelmente, a marca é intimamente ligada aos seus proprietários e é itinerante, junto a eles, que se mudaram essas diversas vezes. Além disso, a Dino Pink de Porto Seguro está enquadrada com o porte de MEI, o que é estranho para quem se denomina como uma "franquia".
O único sócio-proprietário da Dino Pink de Presidente Prudente também é dono da Köniz Beer em Porto Seguro.
Ambiente
O ambiente é simpático e tem uma temática meio infantil, mas que segue a linha "pré-histórica" do dinossauro rosa: muitas coisas rosas, plantas na parede e uma pelúcia de dinossauro, que estou surpreso por não estar encardida ainda.
A maior parte das mesas tem cadeiras de plástico que são extremamente desconfortáveis, mas há, também, uma fileira com sofás.
Há um espaço para crianças, com alguns poucos brinquedos.
Há uma seção anexa ao salão que destoa do ambiente: é aberta para a rua, sem portas. A Carmem, uma das sócias e quem estava fazendo o atendimento no dia, disse que, no inverno, aproveitarão o local para fazer lanches, demonstrando um bom planejamento ao antecipar o período de vendas baixas. Essa é uma estratégia que várias sorveterias da cidade tem adotado para sobreviver: raramente vendem apenas sobremesas geladas.
Como um grande diferencial positivo para a higiene, os consumidores não manipulam as colheres de sorvetes, apenas o atendente. Apesar disso, essa estratégia é, de certa forma, constrangedora, já que o sorvete é cobrado por quilo e o consumidor fica à mercê da quantidade que o funcionário quer colocar. Também pesam as cestas, casquinhas caldas e confeitos juntos do sorvete, somando ao valor.
Sorvetes
O grande diferencial deles é, certamente, a enorme carta de sabores, que varia ao longo das semanas:
Lista dos sabores que vi até agora
Abacaxi ao vinho, abacaxi zero lactose, ameixa, amendoim, amora, amora zero lactose, açaí, açaí com maracujá zero lactose, banana, banana com frutas vermelhas, blue ice, cacao miscela, capuccino, caramelo na manteiga salgada, chiclete rosa, chocolate zero açúcar, coco zero açúcar, creme, cupuaçu, Ferrero Rocher, fior di latte com cookies spicy, fior di latte com manga crispy, flamingo, flocos, goiaba zero lactose, iogurte com amarena, jabuticaba, Kinder Bueno, leite condensado, maracujá, menta, menta alemã, milho, mirtilo zero lactose, morango, Ninho trufado, nozes, Nutella, Oreo, pão de mel, passas ao rum, pavê, pavê italiano, pipoca, pistache, Raffaello, romeu e julieta, sol da meia noite, Sonho de Valsa, torta de limão.
Me questiono sobre a utilidade de dar nomes diferentes aos sorvetes com sabores mistos, como o "flamingo" e "sol da meia noite", sendo que isso só dificulta a escolha do consumidor e, consequentemente, dá trabalho ao atendente, que sempre tem que explicar do que aquilo se trata.
Há sempre ao menos uma opção de sorvete zero lactose e ao menos outra de zero açúcar.
No dia que fui, grande parte dos expositores estava ocupada por sabores que apetecem aos modismos gastronômicos: açaí, Ninho, Nutella, Oreo, etc. Optei por experimentar:
- Fior di latte com manga crispy;
- Jabuticaba;
- Maçã verde;
- Pão de mel;
- Pistache.
A minha curiosidade maior era o pistache, por conta das diferentes maneiras de se fazer um sorvete com esse ingrediente, então comecei por ele. Tinha um sabor muito diferente, bem longe de pistache, mas foi muito, muito difícil encontrar algum sabor no meio de uma pasta muito doce. Foi uma antecipação dos outros sabores de sorvete:
Os sorvetes tem sabores extremamente tímidos, o que fez tudo se tornar uma grande massa uniforme, que era apenas doce demais. A minha mãe, que também possui paladar exigente e que estava junto comigo, compartilhou do mesmo sentimento, então não é uma questão do meu gosto para sorvetes.
Também fica uma crítica adicional ao manga crispy, porque se tinha algum pingo de manga no sorvete, ela não estava nem um pouco crispy.
O sorvete que possuia um sabor mais intenso era o de pão de mel, mas estava ruim. Parecia um pão de mel velho, insosso e que foi mergulhado em água. Então pode ser que os sorvetes de chocolate, que não provei (e não provarei), tenham sabores mais intensos.
A Dino Pink não se decide, em suas mídias sociais, se quer chamar seu produto de "gelato" ou de "sorvete". Embora "gelato" seja simplesmente a tradução ao pé da letra de "sorvete" para o italiano, a palavra ganhou outra conotação no mercado brasileiro: é sinônimo de sorvete de qualidade, com poucos aditivos, com ingredientes reais e com o sabor do leite. Na minha opinião, o que a Dino Pink entrega é sorvete:
A textura e cremosidade estão muito próximas as dos sorvetes artificiais. Nunca vi gelatos para consumo imediato serem armazenados em expositores horizontais comuns de sorveteria, que mantêm a temperatura mais baixa que o ideal, nem ser manuseado com colheres de sorvete ao invés de espátulas (que imagino que seja por conta da temperatura mais baixa).
Em proximidade com as sorveterias tradicionais, há caldas, confeitos, balas de gelatina, açaí, petit gâteau, milk-shake (R$ 20,00/400mL). Muito fora do comum, há varias opções de cervejas e, também, uma opção de energético. Há, também, suco industrializado, refrigerantes e água.
Havia apenas uma pessoa fazendo o atendimento. Ter de esperar, por muitos minutos, a proprietária servir a cada um de uma família de três pessoas indecisas, para que eu pudesse pagar a conta e ir embora logo, para encerrar essa experiência decepcionante, tornou tudo ainda mais miserável.
Conclusão
A Dino Pink não é apenas ruim, ela também engana e desrespeita seus clientes.
Não voltarei nunca mais, nem para provar outros sabores e tecerei críticas a quem me perguntar sobre o lugar. Continue lendo para entender.
Críticas além do paladar
A lei brasileira de direitos autorais não considera o bom-senso (fair use) na análise de violações, então não poderei reproduzir imagens diretamente no texto.
Propaganda enganosa!?
Em publicações no Instagram e em um banner na loja, a Dino Pink promete, como "compromisso de marca", em paráfrases minhas, com comentários meus:
1. Matérias primas feitas da Itália
A Dino Pink não esconde que usa produtos da MEC3, que é uma marca italiana que fabrica tudo para gelatos (bases, flavorizantes, decorações, etc.) e dá cursos. Eu queria entender como a mesma MEC3 capacita e produz uma Fabbrica di Gelati e falha com uma Dino Pink. E a conclusão vem quando abro o site da fabricante italiana e vejo os gelatos dispostos em montes chamativos, que é indicador de uma sobremesa de baixa qualidade: há graus diferentes de gelato, assim como tudo na vida. O produto final depende muito de como os ingredientes serão combinados e manipulados, e a Fabbrica di Gelati sabe como fazer isso muito bem.
2. Frutas selecionadas "na origem"
As frutas serem selecionadas na origem é uma obrigação de qualquer produtor rural, assim como o utilizador dos ingredientes deve fazer uma nova seleção antes do uso.
3. "Açúcar mineral demerara" em quantidades pequenas
"Açúcar mineral" não é um termo que existe na língua portuguesa e é pouquíssimo utilizado na língua inglesa.
De qualquer forma, o açúcar demerara não é melhor que o açúcar refinado: os níveis de nutrientes nos açúcares menos processados são insignificantes[1]; a quantidade de calorias é a mesma[1, 2]; e todo tipo de açúcar eleva os índices glicêmicos de maneira semelhante[1].
Ou seja, não é nenhum ponto positivo, serve apenas para "agregar valor" para quem não conhece o que foi exposto acima.
4. A não utilização de conservantes, estabilizantes, corantes e aromatizantes
A Dino Pink de Presidente Prudente republica, em seu Instagram, fotos da "Dino Pink Oficial" – a franqueadora – com potes de sorvetes embalados, que são obrigados a ter lista de ingredientes, que é a seguinte:
Água, gordura vegetal, leite, creme de leite, leite condensado, emulsificante, açúcar, aromatizante artificial.
Contém glúten, contém leite. Contém derivados de soja. Isento de conservantes e gorduras trans.
Se a franqueadora produz produtos com aromatizantes, é evidente que não há nenhum "compromisso de marca".
Também fica evidente a baixa qualidade do sorvete, ao ter água como o primeiro ingrediente, além de gordura vegetal, leite condensado e emulsificante.
Além disso, todo leite possui gorduras trans. Ela só não está discriminada nas tabelas nutricionais, por conta de um arredondamento para baixo. Falar que o sorvete é isento de gordura trans é incorreto.
Ademais, a ANVISA não permite o uso de conservantes em sorvetes. Se há conservantes em um sorvete, ele é obrigatoriamente parte de algum outro produto da composição, como bolachas. Mas a quantidade é tão pequena, que é insignificante.
Vamos tratar sobre a promessa da não utilização de corantes.
Compare as cores do sorvete de Menta Alemã da Dino Pink e de uma receita caseira de menta com chocolate:
Observe as cores dos sabores coco flocado, banana e creme, respectivamente.
Coco com chocolate fica laranja? A polpa de uma banana tem um amarelo tão intenso? Estão usando a casca? Que creme fica tão amarelo assim?
Observe, também, a cor da maçã verde (1) e da jabuticaba (2). Como obter cores tão vibrantes assim com as frutas naturais?
E, para pôr um ponto final inescusável nessa questão: se não há corantes, por quê há o sabor Blue Ice e um outro azul disponíveis?
Não importa se o Blue Ice foi um sabor sazonal ou se é o único com corante; sem a devida sinalização, a propaganda é enganosa.
Será que eles farão lanche de costela no inverno?
5. A não injeção de ar
Muito bom. Ainda bem que a Dino Pink não errou em tudo.
Mas isso é mais vantajoso para eles, já que aumenta o peso do produto.
Problema na legislação de alimentos
A ANVISA não possui uma norma que obrigue que alimentos embalados na presença do consumidor (como os sorvetes em sorveterias) tenham uma lista de ingredientes acessível ao cliente. Essa questão foi abordada na excelente coluna "O que a Bacio di Latte esconde em seu sorvete?", que recomendo como leitura complementar.
Dessa forma, a única maneira de atestar a veracidade das informações sobre a ausência de corantes seria visitar a cozinha durante o preparo dos sorvetes, o que o estabelecimento também não é obrigado a permitir, diferente da crença popular. O PL 5938/2013 que permitiria isso foi arquivado e o novo PL 5393/2023 está encalhado, logo, a obrigatoriedade das visitas depende da legislação estadual e, mais comumente, da municipal. Em Presidente Prudente, os 13 vereadores – que custam mais de R$ 4.521.552,96 por legislatura aos cofres públicos – optaram por não legislar sobre algo que é lei desde 1994 no município de São Paulo, dando atenção a coisas mais importantes, como dar nome a rotatórias e absolver um colega que, bêbado, ordenou para que funcionários públicos trocassem o pneu de seu carro particular.
Como posso protocolar uma denúncia no PROCON ou no CONAR sendo que as únicas coisas que sustentariam ela são "achei o verde muito verde" e "vi sorvete azul"? Nota-se, portanto, uma lacuna na legislação brasileira, que prejudica a manutenção da segurança alimentar da população.
Conflito de interesses
Em 3 meses de funcionamento, a Dino Pink acumulava 4 avaliações no Google Maps, antes de eu fazer a minha. Dessas, 3 eram dos sócios, com 5 estrelas de avaliação, com comentários filler e com a faixa de preço por pessoa abaixo do real (para R$ <20,00, você só pode consumir ≤250g). Isso vai contra as políticas de conteúdo de contribuições de usuários do Google Maps.
Pouco menos de uma semana depois de eu fazer minha avaliação, a proprietária editou a avaliação dela, que estava intocada há 2 meses, e, no dia seguinte, começaram a pipocar outras avaliações positivas (5 até a publicação desta postagem, sendo uma delas de um parente das sócias e outra de um gaúcho, terra natal da família), mas vazias de conteúdo relevante e feita por pessoas sem muitas outras resenhas. Isso me leva a acreditar que a loja iniciou algum tipo de campanha para melhorar a nota no Google Maps, já que minha avaliação negativa derrubou o escore deles para 4,2 estrelas, o que nem é tão baixo assim, devo pontuar. Inicialmente, eu não queria fazer uma postagem sobre a Dino Pink no blog, mas confesso que fiquei de picuinha com o fato de que, ao invés de aceitarem a crítica válida e produtiva de que considerei medíocre o produto que consumi, e que a formulação dele deveria ser revista, preferiram por inflar artificialmente os pontinhos virtuais da loja. Dessa forma, achei justo aprofundar minhas críticas.
Ainda não responderam ao meu comentário do Google Maps e estou muito curioso para saber como tratarão o questionamento dos corantes e da existência do Blue Ice na loja, se é que irão responder.
A importância da contratação de serviços profissionais
O Instagram da Dino Pink transparece amadorismo. Quase todo material promocional que não são fotos dos sorvetes foram feitos por inteligência artificial, em composições grotescas.
No banner de "compromissos da marca", está estampado "Made in Itali" (sic), em um país que não fala inglês e que associa essas duas primeiras palavras aos produtos de baixa qualidade "Made in China".
As composições gráficas não respeitam fundamentos do design, têm diversos erros de português e parecem que foram feitas no Paint. Os vídeos certamente são feitos no CapCut, de forma amadora.
Urge a contratação de profissionais do marketing de social media e de designers gráfico, coisa que é de responsabilidade da franqueadora, que demonstra um igual amadorismo. Precisam de um engenheiro de alimentos ou de um nutricionista também, para regularizar a embalagem.
Não dá nem para aconselhar que a Dino Pink terceirize a manutenção da marca e foque apenas em fazer sorvete – que seria o expertise deles – porque eles estavam ruins.
Sobre as ruínas de um quase império
Os proprietários da Dino Pink estão cientes que ocupam o mesmo prédio onde já funcionou a fábrica da Sorvetes Cinderela, que foi um dos maiores nomes no ramo dos sorvetes na cidade em boa parte das suas ~4 décadas de existência.
Eu nunca soube o que levou ao fechamento da sorveteria, mas sempre prestei atenção em como atrasaram para pegar o bonde da presença na internet (Facebook, Instagram e Google Maps) e como pareciam sonhar grande demais.
Em sua época de ouro, por volta de 2009, a Cinderela abriu diversas filiais em Prudente e nas cidades da região. Aos poucos, algumas unidades fecharam, até o dia em que todas foram extintas, até mesmo a loja da matriz. Por um tempo, até a adequação de um espaço novo no mesmo prédio da fábrica, estavam vendendo apenas picolés por meio de uma pequena abertura na parede, que dava para onde eram fabricados os sorvetes. Foi aí que a Cinderela entrou em uma espiral de decadência, de Top of Mind para o completo esquecimento, perdendo a presença no subconsciente da população prudentina, até seu fechamento definitivo, por volta de 2022.
Da sorveteria que tinha o nome de uma princesa e que não tinha medo de arriscar, restam apenas as memórias. Os sorvetes artesanais, com uma infinidade de sabores, servidos em porções comicamente enormes, que mal cabiam nas casquinhas e nos copinhos, por preços justos, que eram tabelados. Os meus favoritos eram o de melão e o de pistache, sabores impopulares na época, e que viraram moda no Brasil em tempos recentes.
Dos picolés, me recordo dos vendedores de carrinho, dois idosos com 40 anos de casa e de rua, vendendo sorvetes embaixo do castigante sol prudentino, incluindo na porta da escola onde eu estudava, trazendo alegria aos alunos e professores. Ao mesmo tempo que era interessante ver os idosos ainda ativos, era triste ver que ainda precisavam trabalhar ao invés de aproveitarem o restinho da vida. Em uma pesquisa nos obituários, não encontrei o nome deles. Penso no que devem estar fazendo hoje em dia, aos 81 e 75 anos.
Da ambiciosa sorveteria que os prudentinos tomavam como algo garantido e profundamente integrado à cultura da cidade, quase não sobraram rastros na internet. Quando o Foursquare for encerrado, as últimas 7 fotos daquela época serão apagadas. Por tomarmos muitas coisas da vida como certas e cotidianas, quando elas deixam de existir, perdemos pedacinhos da história a cada vez.